Jaqueline Lima
Comunidade da Escrita Afetuosa
2 min readApr 27, 2024

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Cuidado também é AMOR

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Venho de uma família feliz. Tive infância farta de amor, de cuidados, de frutas e legumes. Cresci subindo em árvores e brincando na rua. Correndo no meio de livros e de música. Apesar dos perrengues normais, que a maior parte da população passa, como falta de dinheiro, vontade de ter coisa materiais que outras colegas tinham e eu não tinha, de viajar pra lugares que eu não poderia ir, eu tinha o mais importante. Cuidado. Alegria. Amor.

Nossa família cresceu e se multiplicou. Papai se foi. Vieram cunhados, sobrinhos. E agora mamãe adoeceu. Alzheimer. E nosso mundo virou de cabeça pra baixo. É muito duro. Muito cruel. Todos os perrengues anteriores, todos os apertos passados na época da faculdade, e depois na vida adulta com trabalho, mais estudo, mais responsabilidades, nem chegam perto da dor que eu sinto agora, vendo aquela pessoa que era nosso porto seguro, inteligente, dinâmica, cuidadora, protetora tendo que ser cuidada. Aos poucos perdendo a noção do certo, do errado, do perigo com cuidados consigo. A gente fica órfã de mãe viva.

Nós, eu e minhas irmãs, adoecemos junto com ela. Perdidas. Sofridas. Angustiadas. Com um ‘bolo’ no peito. Sem saber se as decisões que tomamos são as mais assertivas. Mas, refletindo, fazendo análise, chego à conclusão que sim. São sim. Entendi, que nesse momento vamos pensar mais com o coração. Embora o julgamento seja o mais cruel dos sentimentos, principalmente, por entes que a gente considerava ‘queridos’, estamos certas sim. A cada dia tenho mais certeza de que tomamos a decisão correta em dar o que tem de melhor, no que se refere a tratamento e cuidados, mesmo que muita gente ache o contrário. Gente ignorante que não conhece sobre a doença e não sabe da nossa dor. Não ajuda, mas atrapalha com a arrogância de achar que é melhor do que os outros. Que sabe o que é melhor pra MINHA mãe.

Não dá pra julgar a dor do outro. É muito íntima. E a crueldade só aumenta quando a mentira se instala e a fofoca destrói. Quando a crueldade aparece velada, disfarçada de preocupação é o que mais espanta, já que muitas dessas pessoas nos conheceram a vida inteira. Seguem friamente, sem procurar entender, sem saber como nós estamos nos sentindo, atravessam nossa dor, dilacerando nossos corações.

Eu e minhas irmãs somos amigas, e seguimos, juntas, fazendo o que é o certo. O certo pra nós, pra nossa família e principalmente para a mamãe, que se tivesse lúcida e precisasse tomar atitude parecida para proteger qualquer uma de nós, com certeza faria o que estamos fazendo, porque embora digam ao contrário, aqui sempre teve e sempre terá CUIDADO e AMOR.

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Jaqueline Lima
Comunidade da Escrita Afetuosa

Sou de Belo Horizonte e sempre gostei muito de ler. Sou escritora. Gosto de viajar, de dançar e tomar um bom vinho com os amigos. Amo livro de papel !